quarta-feira, abril 14, 2010

HOMEM MODERNO DO SÉCULO XXI

Homens Possíveis
Se alguém perguntasse qual é o perfil do homem moderno não haveria uma resposta só. Até porque o homem moderno não é um, são vários. O homem moderno é tão plural que resumir todos em um só seria injusto.
Nas próximas páginas apresentamos seis perfis de caras possíveis que passam aos montes nas ruas. Fique esperto, um deles pode ser você.

O descolado
Esse é aquele tipo que numa primeira impressão tem cara de quem passa o final de semana dormindo. E apesar dos olhos de sono é só fachada.
O nome dele é Wagner, mas só o reconhecem pelo sobrenome Dias. Profissão? Professor de geografia, lecionando em colegial e faculdade. Daqueles que dão aulas de manhã, tarde e noite. Mas isso é só parte de um estilo de vida em que variadas paixões se misturam. Além da geografia, fotografia, cerveja, motocicletas e viagens compões um dos professores mais atípicos que as salas de aula já viram. Se ele tivesse que se definir em uma só palavra não conseguiria. Prefere perguntar “O contrário de sossegado seria o quê?”.
É de se pensar como tantos gostos cabem na rotina de quem leciona. Principalmente o de viajar. É fácil. Dias aproveita as férias escolares de começo e meio de ano para as viagens mais longas. E as outras... “tem sempre um feriado, né?”.
Melhor ainda se for de moto. “A moto tem isso das pessoas acharem que é desconfortável, que é muito solitário. Não tem nada a ver! Quando você está de moto é muito mais fácil conhecer pessoas. Os outros (motociclistas) reparam em uma placa de um lugar diferente. Sem contar a adrenalina que o carro não proporciona.” Mesmo não participando de nenhum clube, Dias não troca sua Suzuki Boulevard M 800 por qualquer carrinho não. Opinião de quem já foi sobre duas rodas até Santa Catarina e ainda acha pouco. “Já me convidaram para ir à Terra do Fogo¹ (Ushuaia), não tive tempo ainda. Mas é um lugar que tenho muita vontade de conhecer”.
Sem a Suzuki já conheceu quase todos os países do Mercosul, Irlanda e vários países da União Européia. De cada um desses lugares traz, além de mapas, uma outra paixão muitas histórias que seriam trágicas se não fossem cômicas.
No Paraguai, por exemplo, quase perdeu o carro não fosse a alma boa de um molequinho de uns 10, 12 anos. “Eu fui conhecer as cataratas e aproveitei para fazer umas compras na fronteira. Resolvi atravessar a Ponte da Amizade de carro, mesmo sabendo que não é aconselhável. Eu tinha um guia que na volta cortou caminho por uma favela. Então eu disse que pagava depois que passássemos a ponte, justamente por causa do trajeto. Daí ele parou o carro, desceu e desapareceu. Fiquei perdido em uma favela paraguaia e a única coisa que me passava pela cabeça era que ele tinha colocado droga em algum lugar do carro. Se eu não fosse preso tentando atravessar a fronteira do outro lado alguém iria interceptar o carro. Foi um sufoco. Foi aí que esse menino apareceu e me levou até a fila da travessia. Procurei qualquer coisa que o guia pudesse ter deixado no carro e não encontrei nada. O menino ficou comigo até o sinal da travessia abrir. Lembro que antes de ir embora dei vinte contos e ele saiu pulando , parecia que tinha ganho na Mega Sena”.
Quando está viajando Dias sempre compra um mapa ou um atlas para aumentar a coleção que tem em casa. Além dos mapas comprados, também guarda tudo que possa interessar e auxiliar nas aulas. “ Esse aqui eu vou escanear, porque daqui alguns anos a construção dessa rodovia vai alterar completamente essa região”, explica mostrando um jornal dobrado ao lado de seu notebook.
E como todos esses assuntos se misturam em sua vida? Simples. Todas as experiências de viagem servem para compor aulas mais dinâmicas. Sempre que consegue Dias mostra fotos para os alunos. É uma maneira de deixar a aula mais interessante. Outra, são as piadas. Quando sobra espaço na aula começa o festival. Por via de regra as piadas tem de ser sem graça. Para os alunos se fosse outra pessoa contando não valeria à pena ouvir. E nesse ponto eles devem ter razão. Afinal fazer alguém rir com uma piada do tipo: ”Tinha um frango voando. – Mas frango não voa. – É que é frango à passarinho” não é para qualquer um.
Com tudo isso ele ainda consegue parar em casa. Lá u mapa mundi envelhecido enfeita a parede de sua sala. Se tem espaço para filhos? Agora não. Não é nenhum tipo de posicionamento radical também. Apenas não os teria porque perderia muito da sua liberdade para fazer as coisas que gosta. E para casamento? “É, eu tenho um relacionamento com cara de casamento.”
Sugestão de legenda: sala de aula, um dos lugares que se ganhasse na loteria deixaria por um ano ou dois.
OBS: a Sabóia disse que podemos destacar uma frase interessante, naqueles quadrinhos. Mas fica a critério de vcs. E tem um Box nesse perfil. É o texto que segue:
Destino: Fim do mundo
Ushuaia, a capital da província da Terra do Fogo tem o apelido de Fim do Mundo porque é a última cidade da América do Sul e também a que mais se aproxima do Polo Sul. As baixas temperaturas não espantam os turistas, atraídos tanto pela beleza natural quanto pelo roteiro gastronômico. Os pacotes turísticos variam de 48 à 500 dólares saindo de Porto Alegre. Mas para quem gosta de emoção, bom mesmo é ir de moto.
Foto: podemos usar qualquer foto de divulgação da cidade


O Gastrônomo
Um garoto que tem o pai médico e de vez em quando observava o avô cozinhar pode ser o que eu quando crescer? Chef de cozinha, claro. O que na França é motivo de orgulho para qualquer família, aqui não tem o mesmo impacto. Quando Henrique Gonçalves contou para o pai que queria gastronomia em vez de medicina a reação foi daquelas “Tá bom, né?” Lembra que se tivesse optado por medicina teria o apoio e ajuda de alguém que já tem anos de experiência. “Mas cozinhar é o que eu amo fazer”.
No Brasil, para o sujeito ser um bom gastrônomo tem que ser muito macho. Na Baixada santista, por exemplo, apenas 30% dos restaurantes têm chefs diplomados, segundo Henrique. Já os hotéis todos têm por determinação de uma lei. Preferem não contratar chefs formados por causa dos salário. Nas cozinhas profissionais existe uma hierarquia a ser escalada. Na base da pirâmide está o ajudante de cozinha que recebe de 600 à 800 reais e cujas funções são na maioria das vezes lavar pratos e limpar o chão. Em seguida há o segundo cozinheiro que recebe um pouco melhor e executa ordens do primeiro cozinheiro. Esse sim, é o sonho dos que se formam em gastronomia. Como primeiro cozinheiro o profissional tem liberdade para criar e é a autoridade máxima das panelas. O salário varia de 1.000 à 5.000 reais. São raros os profissionais que faturam mais que isso.
As cozinhas profissionais também não são tão glamorosas quanto as dos filmes. A temperatura média de uma é de 45ºC no verão ou no inverno. Além disso, é preciso muito braço, pois panelas com molhos ou carnes podem pesar até 40 quilos e precisam ser carregadas. Henrique conta tudo isso mostrando as cicatrizes que a profissão lhe talhou na mão.
Talvez seja por isso que homens representem a maioria esmagadora nas cozinhas do mundo. “As mulheres passam por variações de humor durante o mês que fazem com que elas mudem o tempero ou exagerem no sal. Sem contar que é uma profissão que exige muita dedicação. Não dá para passar muito tempo com filhos, por exemplo. As que conheci estudando queriam ser boleiras ou simplesmente gostavam de culinária como um hobbie e não profissão. Mesmo assim as poucas chefs que temos no Brasil são fantásticas”, explica.
Fantástica também é a disposição que Henrique mostra para cozinhar. “Hoje deixei o almoço pronto em casa”, ele é a prova de que também se come bem sem passar horas no fogão. O mito de que cozinheiros profissionais optam por um cardápio mais simples em casa, portanto, é verdade. Mas comida simples não precisa ser ruim. O almoço que o cara deixou pronto em casa foi lingüiça ao forno com batatas coradas.
E aquela história antiga de que homem que vai para o fogão não é macho está totalmente furada. “Só tem preconceito por parte de quem não é do ramo ou ignora completamente a culinária. As mulheres até gostam mais.”
Isso mesmo, se você ainda não aprendeu a cozinhar está perdendo tempo e oportunidades. Segundo Henrique é um truque que nunca falha. “Você prepara um jantarzinho, escolhe um bom vinho. Não tem mulher que resista”, diz em tom de brincadeira já que o namoro de mais de dois anos é compromisso sério. É verdade também que eles recebem muito mais cantadas quando as mulheres descobrem a profissão. “Eu vejo isso no cotidiano, comigo não porque sou comprometido”, desconversa.
A namorada, que faz Administração não troca seu chef por nenhum contador. “è claro que eu já o amava antes. Mas depois de todas as delícias que ele aprendeu o relacionamento ficou bem mais saboroso”, se derrete Karine.
Mulheres à parte Henrique que tem especialização em técnicas de cozinha internacional quer mesmo é ter seu bistrô algum dia. “Gosto do lugar onde trabalho, é organizado e tenho total liberdade para criar, mas nada como ter um negócio próprio”. No final das contas o que importa mesmo é ver o cliente satisfeito. “É a sensação de dever cumprido”.
O sorriso que Henrique tinha no rosto ao ver o cliente degustando um novo prato foi refletido no rosto do próprio segundos após engolir o primeiro pedaço. Era uma cena de filme. – Parece um filho que acabou de nascer, eu disse. – É literalmente isso, ele respondeu.
Sugestão de legenda: Trabalhando no Bar Bohemia Henrique teve a sorte de começar como Primeiro Cozinheiro.
BOX da matéria:
Testosterona e Sangue:
A parisiense Le Cordon Bleu é a escola de culinária mais antiga e prestigiada do mundo. E só passou a aceitar mulheres há cerca de 100 anos. Assim como o Guia Michelin, a Le Cordon Bleu avalia os estabelecimentos e pontua a qualidade do serviço, higiene e comida. Tudo deve estar impecável. Em 2003 o renomado chef francês Bernard Loiseau cometeu suicídio só pela ameaça de um crítico de tirar uma de suas estrelas. Entretanto a família alega que a morte foi acidental. O número limite de estrelas concedidas é cinco. E isso representa a perfeição do chef e de seu restaurante. No Brasil o chef mais estrelado é Alex Atala com três. Em janeiro o chef Marcelo Tully recebeu uma estrela do Guia Michelin por seu trabalho na Escócia.

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