terça-feira, abril 13, 2010
Quanto mais baixo, melhor!
Carros rebaixados fazem sucesso nas ruas e competições.
De acordo com o dicionário Aurélio, o verbo rebaixar tem alguns significados como depreciar, humilhar, menoscabar. Mas nenhum desses sinônimos representa o sentimento de quem rebaixa seu carro.
Pelo menos não é o que sente Rogério Meira Mendes, vencedor na categoria de carros rebaixados - com molas - Aro 17, no último dia 21 de março, em um campeonato promovido pela AlexCar Eventos, em Guarujá. Orgulhoso de ter um “rebaixado”, o auxiliar técnico de Engenharia Eletrônica apresenta seu verdadeiro troféu: Um Opel Calibra 1994.
O vencedor da categoria Volkswagen – suspensão a ar – Aro 15 - foi Fernando Maeda, proprietário de uma Quantum 1996. O comerciante está com o carro há três anos e ganhou os 16 campeonatos dos quais participou
A competição, realizada no estacionamento do ginásio Guaibê, foi organizada por Alexandre Gardelli – também conhecido como Alex – que é funileiro e organizador de eventos automotivos.
No campeonato, são entendidos como rebaixados os veículos que possuam qualquer tipo de alteração em sua altura, modificando suas características originais. Os critérios de avaliação envolvem a suspensão (todas as marcas e modelos), rodas esportivas ou originais e nos pneus é exigida calibragem mínima de 22 libras.
A prova é simples, feita no asfalto mesmo, de preferência em estacionamentos ou ruas fechadas, para não atrapalhar o trânsito. Para ganhar, basta ter o carro mais baixo, mas é claro, respeitando o regulamento. Por exemplo, os carros devem estar com a mesma altura tanto na frente como na traseira, o porta-malas não pode ter nenhum peso extra, e as medições são feitas sempre com o mesmo tipo de paquímetro.
Alex conta que em seus campeonatos há diversas modalidades de competição. Passando por som, tunnings e rebaixados.
Apesar da legislação só aprovar as suspensões fixas, os carros preparados para campeonato podem aderir a outros tipos de suspensão. Numa competição, cada rebaixado é avaliado com critérios específicos, de acordo com modelo, rodas, suspensões e nacionalidade.
Mas para andar nas ruas, a coisa é um pouco diferente. Lombadas, buracos, quebra-molas, asfalto irregular. Esses são só alguns dos desafios que um proprietário de carro rebaixado tem que enfrentar diariamente. Quem escolhe andar com o carro um pouco mais baixo que o normal sabe que alguns cuidados devem ser tomados, mesmo que o passeio seja curto.
O Auxiliar Administrativo, Rafael Martins, foi um dos muitos que optou por andar com o carro “raspando no chão”. Ele conta que desde pequeno tinha contato com os rebaixados, por causa de seu irmão mais velho. “Meu irmão, Vítor, sempre andou de carro rebaixado e turbo. É uma paixão nossa”.
Dois motivos levaram Rafael a rebaixar seu Volkswagen Voyage 1989: a estética e o desempenho esportivo. Para ele, as diferenças entre um carro “baixo” e um “alto” são muitas, desde a aparência até a dirigibilidade. “Para mim, o carro fica muito mais bonito, e dirigir fica muito melhor. Além do carro ficar mais estável eu gosto da adrenalina quando corro com ele”.
Com a ajuda de profissionais, Rafael rebaixou seu Voyage utilizando suspensão fixa preparada e rodas aro 14. E ele confessa: “Ser parado pela polícia já virou rotina”. Isso porque não há legalização para todos os tipos de rebaixamento.
Em 2008, entrou em vigor a Resolução 262 do Código de Trânsito Brasileiro que diz: “Art. 6º: Na modificação de suspensão não será permitida a utilização de sistemas de suspensão com regulagem de altura.
Parágrafo único: Para os veículos que tiverem sua suspensão modificada, deve-se fazer constar no campo das observações do Certificado de Registro de Veículo – CRV e do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo – CRLV a nova altura do veículo medida verticalmente do solo ao ponto do farol baixo (original) do veículo.
O limite máximo de rebaixamento são 48 cm a partir da linha de baixo do farol. Isto é, tomando com referência o farol do carro, mede-se 48 centímetros até o chão.
Rafael já teve o carro apreendido duas vezes por não estar com a suspensão devidamente documentada, chegando até a perder sua Carteira Nacional de Habilitação. O estudante teve de pagar multa para recuperar o carro e seus documentos, além de fazer a regularização do CRLV.
O mecânico com certificação internacional em suspensão, Roberto Lopes, explica algumas dessas diferenças: “Um veículo rebaixado tem uma estabilidade melhor em curvas, por ter o centro de gravidade mais próximo ao chão. Seu desempenho aerodinâmico, em altas velocidades, também é melhor”.
Mas antes de ir correndo rebaixar o seu, preste muita atenção em alguns detalhes. São vários os métodos de se rebaixar um carro, porém alguns são mais seguros e recomendados. A suspensão fixa preparada conserva as características da original e é a única autorizada pela Lei.
Porém, mesmo não sendo autorizadas pelo Código, muitos recorrem às suspensões reguláveis, como o sistema de rosca, pneumático (conhecido como a ar), hidráulico e até elétrico. Mas além da fiscalização, o proprietário que optar por esses sistemas pode encontrar algumas dificuldades. Lopes explica que, profissionalmente, indica as suspensões fixas, pois já presenciou vários acidentes causados pela má utilização ou instalação das suspensões de tipo regulável.
Outro cuidado importante é realizar o processo com um profissional, não adianta querer gastar pouco porque o barato pode sair caro. O veículo nunca deve ser rebaixado por amadores, sem um padrão de qualidade e segurança. A manipulação da suspensão feita por amadores pode causar acidentes, causados pela mudança repentina da geometria da suspensão, como a cambagem e o alinhamento, essenciais para o bom desempenho do veículo e boa dirigibilidade.
O projeto deve ser apropriado para cada tipo de carro, para não comprometer de forma grave a estrutura, como trincas na longarina (componente do chassis onde é fixada a suspensão), torções no chassis, desgaste rápido e irregular dos pneus e até mesmo dificuldade na frenagem, principalmente se houver ondulações no chão.
Rafael conta que sua paixão é considerada loucura por seus pais, já que ele gasta todo seu tempo e dinheiro no carro, às vezes deixando até a família de lado para ficar cuidando de seu Voyage. “Meus pais acham que eu sou maluco, mas é minha paixão, o que me faz feliz”.
A preocupação da família de Rafael é justificável, já que, incluindo as variações por uso específico da suspensão – elas podem ser para uso comum ou competição- rebaixar um carro pode custar de R$ 500,00 a mais de R$10.000.
Se você já gastou rebaixando o carro e agora está preocupado em revendê-lo ou levantá-lo fique tranqüilo. O carro pode ser levantado, porém, às vezes, ele deve passar por um processo reconstrutivo, dependendo do grau da modificação, isto é, se para essa mudança foi necessária alguma alteração estrutural. Na maioria das vezes, isto não é necessário, já que a transformação é feita na própria suspensão, o que torna a troca por uma original mais fácil.
No caso da revenda, tudo depende do comprador. Se ele gostar, pode até pagar como acessório, caso contrário pode se tornar um problema, aí lá vamos nós levantar tudo outra vez.
Mas para andar tranqüilo “raspando o chão”, não se esqueça de verificar sempre as condições da sua suspensão, principalmente se ela for pneumática ou hidráulica – sistemas onde pode haver vazamentos ou ressecamento. Nas suspensões fixas ou à rosca, os cuidados são os mesmos da suspensão original, como ficar atento às molas e amortecedores. Além de ter consciência que um carro rebaixado não é o mais apropriado para fazer trilha.
Em alguns casos, não é necessário alterar nada no carro para que ele seja baixo, alguns modelos já saem da fábrica com uma altura menor, em relação a outros carros,são os chamados esportivos. Entre eles: os modelos da Ferrari, Lamborghini, e o Golf GTi europeu, da marca Volkswagen.
A vantagem encontrada em carros “baixos de fábrica” é que o projeto é realizado por profissionais e com garantia de segurança, já que a suspensão é o que sustenta o carro, amortecendo todos os impactos.
Mas lembre-se! Quando o carro é comprado zero, e ainda está na garantia, é bom não fazer qualquer alteração, pois há o risco de perder a garantia e ter de pagar caro se algo der errado.
Manuela Tavares
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